
Olha só que
tristeza é ser pessimista, ver as coisas por uma perspectiva negativa e
considerar que não há nada que se possa fazer para que tudo, ou pelo menos uma
parte, fique melhor.
Hatsumi Sensei diz
que "o sorriso é o símbolo do vencedor" e interpreto essa frase com o
conceito de que encarar os problemas com uma postura inabalável é compreender
que toda experiência, boa ou ruim, pode nos oferecer resultados produtivos. Isso
é ser otimista.
Bem, se ser
pessimista é algo triste, ser otimista é algo muito difícil!
Tentar encontrar
motivação para encarar os problemas da vida com uma postura otimista é uma
tarefa que exige imenso controle emocional e um profundo desapego. Falta-nos
constantemente o equilíbrio, a harmonia e o espírito inabalável (Fudoshin) ao
nos deparar com um mundo caótico onde todo desenvolvimento alcançado até hoje,
não foi suficiente para tornar nossas vidas melhores. E isso se deve ao fato de
que o desenvolvimento do todo não tem refletido positivamente no
desenvolvimento do indivíduo. E é aí que entra aquela velha lição; "seja a
transformação que você quer ver no mundo".
Nunca foi tão
necessário que alcancemos a transformação positiva, que transcendamos.
Nós, praticantes de
artes marciais, temos a nosso favor a arte e a filosofia como combustíveis para
o refinamento espiritual (Seisshin Teki Kyoyo) que nos inspira de muitos modos
a causar uma transformação de dentro para fora realmente significativa. No entanto,
ainda que possamos nos respaldar na arte e em seus ensinamentos, é necessário
vencer muitas batalhas - internas principalmente.
No Ninjutsu, nós
recitamos o mantra "Shikin Haramitsu Daikomyo" no início e no
final dos treinos como um "comando/solicitação" ao espírito para que
estejamos aptos para absorver tudo o que ocorrer de forma absoluta e passível
de engrandecimento. Para que nos conectemos uns com os outros, com o instrutor
e com a arte de forma plena.
(A Bujinkan é uma
instituição aberta que não impõem qualquer doutrina, religião ou ritual que
possa entrar em conflito com o livre arbítrio de cada pessoa.)
Sabe quando você
ouve uma música e ela te faz sentir certas emoções por se conectar com seus sentidos? É
basicamente a mesma coisa, mas com objetivo previamente definido. Citamos o
Shikin Haramitsu Daikomyo por desejar nos conectar. Trata-se de uma
escolha/postura para que deixemos de lado todas as atribulações desse mundo
louco em que vivemos, sem sermos influenciados pelas energias negativas e pensamentos
conflitantes que possam nos privar do aproveitamento profundo dos treinos. Digo
por experiência própria que é inacreditável como esse mantra se torna uma
"chave" dentro de nós capaz de desligar completamente nossas
perturbações e ligar nossa concentração dedicada.
Caso você queira
(recomendo) ler a tradução deste mantra, clique AQUI.
Pois bem, ao passo
que vamos nos desenvolvendo pela prática de uma arte marcial, sofremos
naturalmente diversas mudanças que nos levam rumo ao refinamento espiritual que
certamente nos transforma em pessoas melhores. Quando existe em nós o desejo de
passar por tais processos e de experimentar tais transformações, a arte cria em
nosso íntimo uma percepção diferenciada sobre todas as situações, as boas e as
ruins. Por exemplo, quando você realiza uma técnica de forma fluída e
funcional, surge o orgulho característico da noção de desenvolvimento. Por
outro lado, quando você comete algum erro, ao invés de se frustrar e lamentar,
percebe os pontos que precisam ser alterados e corrigidos para obter o sucesso
desejado. Ou seja, passamos a enfrentar nossas vitórias e nossas derrotas com
uma perspectiva sempre positiva visto que, ou estamos atingindo resultados
esperados, ou estamos aptos para compreender o que é necessário para atingi-los.
E já que a arte não nos acompanha apenas dentro do tatame, mas sim em todos os lugares onde estivermos, essa capacidade se estabelece como parte de nós e com
isso podemos expandir essa percepção para todos os cenários de nossas vidas.
Lá no início do meu
treinamento, após ter experimentado diversas situações físicas durante os treinos,
percebi uma modificação muito sutil que começava a me "refinar".
Entendi por processos de contemplação pessoal que são os golpes que o meu corpo
leva que modelam o meu espírito. Essa percepção não me veio como a ideia de que
existe imensa resistência em mim que deve ser vencida, mas que nossa
sobrevivência em sociedade depende de uma postura mais rígida diante do caos e
que isso nos impede de ver a realidade das coisas por estarmos sempre com uma
armadura comportamental.
Nós temos a
tendência de nos endurecer com as experiências por sermos apegados com as boas
sensações, mas todos sabemos que são as situações desagradáveis que mais nos
ensinam.
Existe aprendizado
em todas as experiências de nossas vidas, estar aberto para absorver o bom e o
ruim com otimismo é fundamental para nosso desenvolvimento e refinamento.
Certo, eu acredito que o mantra é importante ser recitado e faz parte de um processo desse treinamento tão grandioso. Fico refletindo no caso se a pessoa praticar sem recitar o mantra, seja lá porque não acredita ou por motivos religiosos, a transformação interna e evolução seria tanto quanto quem recita?
ResponderExcluirOlha, sinceramente eu não sei.
ExcluirÉ difícil avaliar isso de modo mais profundo. Algumas pessoas possuem sensibilidade suficiente para se conectar sem que seja necessário qualquer "gatilho".
Eu vejo o shikin como um "momento" onde podemos abrir uma porta de conexão. Cada um de nós vive uma vida absolutamente diferente, com suas próprias obrigações, costumes, funções... Ou seja, antes do shikin, cada praticante é um "universo particular". Ao fazermos o shikin inicial e nos permitir conectar uns com os outros, estamos "escolhendo" participar de uma mesma realidade. Ao fazer isso, deixamos disponíveis nossa atenção, nossa ação e nossa reação para todos os que estão presentes e isso gera uma "simbiose" harmoniosa que nos permite captar no outro e através do outro aquilo que pode nos oferecer algum tipo de conteúdo válido e proveitoso.
Um forma de você observar a presença dessa conexão é se atentar ao sincronismo das palmas logo após o shikin; no início da aula as palmas não são muito harmoniosas, pois ainda não nos conectamos, mas no shikin do final, as palmas ocorrem com uma harmonia muito maior.
Depois de algum tempo de treino, conseguimos entrar em harmonia uns com os outros de maneira muito mais rápida e eficiente, tanto que o shikin é quase sempre uníssono.
Por fim, eu interpreto assim; se cada um de nós é dotado de um tipo único de sensibilidade, cada um compreende uma mesma coisa de forma única e cada um consegue absorver a informação de forma também única, ao nos conectarmos, aproveitamos o todo com mais intensidade e isso eleva nossos níveis de transformação. Ou seja, sob minha interpretação, fazer o shikin acelera o processo de desenvolvimento.