Talvez um dos elementos de maior distorção do desenvolvimento seja a Insegurança. Sentir-se inseguro durante o processo de aprendizado é como sal na água do mar; faz parte e é necessário.
Existem dois tipos mais comuns de insegurança; aquela que
comprova a incapacidade e aquela que pondera a capacidade. Os dois tipos estão
ligados ao ego e é o ego que dispara a sensação de insegurança diante de uma
oportunidade de ação. O tipo de sensação depende muito de como a pessoa se
coloca na realidade.
A insegurança que comprova a incapacidade é aquela em que a
pessoa sente quando sabe que não é capaz, mas finge descaradamente ser dono de
toda capacidade que existe. Num momento em que tais capacidades são
necessárias, ou solicitadas, o ego libera a insegurança para que o indivíduo
reconheça que não deve seguir por um caminho que certamente lhe trará efeitos
negativos. Então essa pessoa discursa diversas desculpas para não revelar sua
incapacidade depois de ter vendido com fervor as teorias que não compreende de
fato. É a boa e velha falsidade, podemos dizer, mas como um peso ainda maior,
pois esse tipo de ilusão convence primeiramente que engana, logo, no intimo
dessa pessoa a insegurança é só o alarme de algo que ela sabe não existir. E isso
por sua vez, gera nessa pessoa a necessidade de criar distorções da sua própria
realidade, ou seja, ela mente para si mesma enquanto cria discursos de defesa.
A insegurança que pondera as capacidades é aquela que a
pessoa sente num momento de despertar. Ainda que pareça contraditório, uma
capacidade recém conquistada não é ativada imediatamente. É necessário tomar
consciência de tal capacidade e aos poucos ir se acostumando com ela. O ego
libera esse tipo de insegurança por cautela, para que sejamos colocados em um
nível de auto-avaliação antes de iniciar um processo para o qual estamos
preparados por teoria e não por pratica. Esse tipo de insegurança é muito útil,
pois evita que sejamos convencidos pelo ego de que estamos prontos para algo
que não estamos.
E por que ambas são importantes?
Bem, a primeira nos serve para controlar as influências
negativas do ego que durante todo discurso hipócrita se sentia massageado pela
admiração alheia. Depois de algumas experiências negativas com esse tipo de
insegurança, algumas pessoas se sentem motivadas a evitar tal sensação
desagradável e ou desistem dos discursos vazios, ou correm atrás do conteúdo em
questão para poderem enfim serem o que dizer ser. Isso geralmente leva anos e
quase sempre só se torna uma realidade quando já é tarde demais. É uma ironia
do ego; a pessoa se engana hoje, se engana amanhã, se engana por anos
acumulando inúmeros títulos e condecorações que não lhe servem e de uma hora
para outra a estrutura ilusória começa a ruir. Tudo se perde!
Já a segunda forma de insegurança nos serve como ponto de
segurança para que tenhamos a noção de onde/como/quanto estamos. Essa
insegurança gera um tipo de "save point" no caminho do nosso
desenvolvimento, não para termos de onde recomeçar, mas para nos servir de
indicação de onde partimos. É extremamente importante ter consciência de que
posição ocupamos e quais são nossas verdadeiras capacidades, pois do contrário,
todo ganho será ilusão. E não pense que são ilusões do tipo “ops, foi um engano”,
ah não, são ilusões com a capacidade de te levar muito alto só para te deixar
cair por muito tempo.
Estar inseguro não é um problema, ser seguro demais pode se
tornar um problema.
O primeiro tipo de insegurança deve ser evitado a todo custo
e o mecanismo para tal é o mais simples que existe: ser verdadeiro.
O segundo tipo de insegurança deve ser experimentado, mas
não pode ser mantido por muito tempo. É de grande benefício ter esse tipo de
feedback interno, mas não podemos nos deixar bloquear por esse sentimento que
serve apenas para nos demonstrar mudanças.
Para evitar que essa insegurança se mantenha por mais tempo
do que o necessário, basta tomar conhecimento da realidade que nos cerca. Veja,
essa é uma insegurança que te aponta posição no caminho, logo, ela está
diretamente conectada ao ponto do caminho em que você está. Sendo assim, saiba
onde você está!
Se você é iniciante, seja iniciante. Você não precisa ficar
mirando posições distantes, tentando ver do outro lado dos muros que você
sequer alcançou. Seus movimentos não precisam ser perfeitos, sua técnica não
precisa ser super alinhada, você precisa aceitar que os processos são fundamentais
e que você deve aproveitá-los. É preciso tomar muito cuidado para que essa
insegurança inicial não se torne ansiedade. A ansiedade é um freio imenso para
o desenvolvimento, pois atropela processos e ignora aprendizados importantes.
Entenda e aceite; se você está começando, você está começando.
Não se permita ser dominado por um desejo de estar onde você não está. Se você for
capaz de aceitar o momento, vai perceber que tudo o que você precisa está bem
diante dos seus olhos e talvez, TALVEZ você perceba que o momento atual é o
melhor momento que existe e por isso que se chama PRESENTE.
Texto de 2018 que pode ser útil agora.
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