Todo tipo de arte é um sistema de expressão.
Expressar-se significa exteriorizar o que é produzido
dentro de nós. É apresentar de forma compreensível aquilo que é subjetivo de
cada um, usando qualquer tipo de linguagem genérica para se evitar o abstrato
que ao invés de ser uma forma de expressão, torna-se um ponto de referência.
Pontos de referência estão sujeitos a interpretações diversas, expressões não.
Um artista marcial não o é somente quando está de kimono
em um tatame. Ser um artista marcial é viver um estilo de vida. A arte
acompanha o artista onde quer que ele vá. Mas onde é que está a arte dentro do
artista?
A arte está na consciência!
Um artista marcial quando se expressa, traz à tona o
conteúdo de sua consciência marcial. Uma consciência que se molda lentamente
durante os treinos e que não apenas se modifica ao passo que recebe novas
lições, como também expande a capacidade de absorver informações cada vez mais
complexas ou profundas em cenários e situações que anteriormente eram
compreendidas apenas pelo superficial.
Por exemplo, o que é paciência?
Pense um pouco sobre isso. Paciência é uma característica
física? Uma reação química? Uma capacidade? Um comportamento? Uma virtude? Um
mito?
Faça esse exercício, pare de ler e pense sobre essa
questão por alguns instantes. Tenha paciência.
Paciência é um freio inserido em nossa consciência desde
a infância para controlar os impulsos ansiosos de nossos instintos. Modo de
perceber isso é o fato de que não importa quão bonito e bem feito seja o
embrulho de um presente para uma criança pequena, para ela o embrulho é apenas
um obstáculo para o que ela realmente deseja.
E é assim por toda a vida; tudo que nos afasta de nossos
objetivos principais é considerado como obstáculo. Mas nós não vivemos
sozinhos, temos bilhões de vizinhos e precisamos aprender a coexistir dentro
desse atrito de interesses particulares onde cada um tem direito a sua própria
realização. A paciência deixa de ser um freio e passa a ser um amortecedor
quando compreendemos o conceito de respeito mútuo e passamos a nos condicionar
a esperar e aceitar o espaço e o tempo alheio. Nesse momento a paciência deixa
de ser uma orientação dos pais e passa a ser uma ferramenta de nossa
consciência própria, ou seja, uma virtude moral individual.
A arte marcial oferece ferramentas à nossa consciência
que nos permite coexistir com nossos semelhantes de forma respeitosa e ética.
Respeito é compreender que um não é melhor do que o outro. Ética é compreender
que um não é pior do que o outro. Esse tipo de consciência estabelece
princípios de equilíbrio e harmonia que transformam o artista marcial em uma
referência de comportamento para todas as outras pessoas ao redor. Novamente a
arte marcial insere ao praticante o senso de responsabilidade que pode fazer a
diferença.
Toda lição aprendida quando se instala na consciência
torna-se um princípio ou uma referência significativa. Toda ação cometida com
consciência leva consigo o respaldo de inúmeras avaliações que vão desde a real
necessidade até o efeito de sua repercussão. Agir com consciência é agir com
responsabilidade.
Para um artista marcial, agir com consciência é algo
ainda mais profundo, pois através dos treinos, da disciplina e da filosofia, a
responsabilidade se expande da pessoa em si e atinge também os outros. Um
artista marcial não é responsável apenas por ele mesmo, mas por todos.
É através da consciência marcial que uma pessoa se torna
capaz de abraçar toda sociedade e o meio como parte de si mesmo e por conta
dessa atitude altruísta, o artista marcial se difere entre bilhões.
Assim como a arte é um sistema de expressão, a
consciência marcial é a expressão de um artista.
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