Artes marciais
são sistemas de treinamento elaborados em escalas de ensinamentos e graduações.
Tais sistemas tem como objetivo o desenvolvimento físico, mental e espiritual
de seus praticantes, usando métodos coerentes de combate e defesa pessoal
respaldados em filosofias, disciplina e ética.
Todo tipo de
arte é um sistema de expressão subjetiva, pois cada ação depende exclusivamente
das circunstâncias, objetivos e interesses de cada artista. Nas artes marciais,
o artista usa os conhecimentos sobre o corpo, movimentos, estratégias e noções
de preservação para agir. Quando um artista marcial se expressa, suas ações
geram consequências diversas, por conta disso, o que difere um artista marcial
de um indivíduo agressivo e violento é sua capacidade de compreender a
repercussão de seus atos e agir sempre com responsabilidade.
A escolha da
arte marcial depende basicamente de quais são os objetivos do interessado. Cada
arte marcial oferece um tipo característico de resultados que para serem
alcançados exigem do praticante interesse, empenho e paciência. Logo, ao fazer
uma escolha que se conecte com seus objetivos, o interesse irá favorecer o
empenho e com paciência os resultados surgirão com o tempo.
Quando escolhi o
Ninjutsu, eu buscava uma arte marcial que me ajudasse no equilíbrio emocional
que eu tanto precisava, mas que não exigisse de mim grandes transformações
físicas e treinamentos agressivos ao corpo. Calejar as canelas, fazer flexões
nas pontas dos dedos, forçar a abertura das pernas... Essas situações não
faziam parte dos meus planos. E uma das grandes vantagens do Ninjutsu é
justamente o fato de que a técnica se adapta ao praticante e não o contrário.
Ou seja, independente da minha forma física, do tamanho dos meus membros ou da
minha flexibilidade, é possível treinar, aprender e me desenvolver de forma
absolutamente funcional.
Mas uma arte
marcial não é só correspondência de expectativas!
Não, não é só
isso. O Ninjutsu me trouxe muito mais do que eu esperava. O que eu buscava era
na verdade algo simples de ser resolvido. O equilíbrio emocional que sentia
necessidade de conquistar para me tornar uma pessoa mais centrada e ser menos
influenciado por emoções destrutivas, provavelmente poderia ter sido alcançado
com a maturidade, mas por eu ter adicionado o treinamento durante os processos
de amadurecimento que o tempo impõe à todos nós, eu pude adquirir também uma
noção diferenciada sobre como podemos e somos manipulados por nossas emoções.
Antes eu me
exaltava com ações simples como um esbarrão ou xingamento por considerar esse
tipo de coisa como uma agressão contra a minha pessoa. Hoje eu compreendo que
ações desse tipo não eram realmente afrontas e sim gatilhos dos quais eu me
aproveitava para disparar minhas frustrações contra aqueles que por algum
motivo pareciam merecer as investidas da insatisfação que eu sentia todas as
vezes que os meus planos ou expectativas não eram correspondidos. Essa é uma
das maiores lições que o Ninjutsu me proporcionou; qualquer atrito físico com
outra pessoa por motivos fúteis é violência e não defesa. Condenar os outros
por nossos problemas é uma atitude fútil influenciada por nosso ego caprichoso
que se recusa a aceitar os erros como consequências de nossas próprias
fraquezas.
Para quem busca
a defesa pessoal em uma arte marcial, é preciso compreender que defesa pessoal
não é apenas saber revidar contra alguma agressão. Não é ter somente a
capacidade de evitar socos e chutes, golpear com precisão em pontos
específicos, enfrentar vários oponentes, usar armas, saber chaves, torções e
escapes. Não, a defesa pessoal não é somente defesa física.
Defender-se
consiste em garantir sua integridade, seja física, moral, social ou intelectual
com o mínimo de atrito possível. É estar preparado para enfrentar seus
problemas com neutralidade, pois ao ser sugestionado por eles você se torna um
alguém volátil com lapsos de irracionalidade passível de cometer erros irreparáveis.
Defender-se não é se afastar dos problemas simplesmente, mas combatê-los com um
tipo de consciência superior que possa te permitir enxergar caminhos de
preservação, tanto sua, quanto de todos conectados de alguma forma a situação
em questão. Quem pratica artes marciais pode contar com a consciência marcial,
tema do próximo texto.
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