Emoção; "Reação moral, psíquica ou física,
geralmente causada por uma confusão de sentimentos, que se tem diante de algum
fato, situação, notícia, fazendo com que o corpo se comporte tendo em conta
essa reação, através de alterações respiratórias, circulatórias."
Três palavras
dessa definição são muito importantes; reação,
confusão e sentimentos.
Por mais que
seja importante o alto-conhecimento, tentar racionalizar emoções é uma tarefa
absolutamente desnecessária. Nós não pensamos emoções, nós as sentimos!
Emoções são como
sabores que provamos depois de alguma experiência, são estados de espírito,
resultados complexos que misturam física, química e comportamento nos causando
perturbações que por características mais ou menos definidas podem ser nomeados
da mesma forma que os sentimentos, mas com uma duração passageira. A grande
questão está justamente no tempo de duração de uma emoção e no modo como somos
manipulados por ela.
Emoções são
capazes de nublar nossa razão e modificar nosso comportamento de formas tão
profundas que agimos como se estivéssemos sob os efeitos de alguma substância
extremamente poderosa. Em um dos livros mais importantes da literatura mundial,
lê-se: “Mostra-me um homem que não seja
escravo de suas paixões e eu o colocarei no centro de meu coração; no coração
de meu coração...” HAMLET – Pág. 248.
Nós, sob a
influência de uma emoção somos escravos de seus efeitos!
No cotidiano da
vida, pessoas muito racionais não são muito queridas. A falta de sensibilidade
faz com se comportem de maneira fria, e isso incomoda. Na vida, as emoções
ocupam um lugar privilegiado. Mas e na arte marcial?
Eu comecei a
treinar Ninjutsu em busca de controle emocional. A ideia de se adquirir o
equilíbrio entre corpo, mente e espírito me cativou imediatamente, mas no
decorrer da prática, entendi que não se pode controlar as emoções, mas sim se
controlar quando afetado por elas. Não é necessário - ouso dizer até que não é
importante - tentar amenizar as emoções que sentimos, basta senti-las sem ser
dominado por elas. Algo que inicialmente me parecia extremamente complexo, por
isso achei interessante partir de uma perspectiva diferente. Desenvolvi em mim
mesmo algo que eu decidi chamar de emoção racional. Ao invés de tentar
racionalizar as emoções e buscar mecanismos para combatê-las, comecei a prestar
atenção em como eu me sentia e me comportava nos momentos em que as emoções me
dominavam.
Primeiro
abandonei todo tipo de conduta anteriormente definida e por escolha adotei os
comportamentos mais genuínos que cada emoção me proporcionava. Se eu ficava com
raiva, sentia a raiva com toda sua intensidade, reagia da forma que ela me
estimulava sem nenhum pudor ou cautela. Fiz isso com muitas emoções diferentes
e confesso ter passado por situações bem complicadas, gerando inclusive alguns
atritos que poderiam ter sido evitados com uma postura mais sociável, mas tudo
fazia parte de um "laboratório" necessário.
Depois de
inúmeras situações e de muita meditação, consegui condensar de forma prática
grande parte dos efeitos que as emoções me causavam, os comportamentos que eu
adotava, os escapes que eu insistia em usar e principalmente as consequências
que tudo isso gerava ao redor. E a partir desse acumulado de informações sobre
mim mesmo, eu pude encontrar a minha emoção racional; um raciocínio sobre meu
lado emocional e suas influências. Com a dose certa de disciplina, eu poderia
me policiar constantemente tentando aplicar contra-medidas racionais aos efeitos
involuntários que as emoções me ofereciam.
Sabe aquela
sugestão de contar até dez quando estiver com raiva para evitar cometer ações
no calor do momento? Funciona com algumas pessoas, mas não pelo fato da
contagem de uma sequência numérica mágica, mas sim pela escolha. Contar até dez
é só uma forma racional para representar o desejo (subjetivo) de se controlar.
Trata-se de um comportamento absorvido por escolha, um ponto de restauração dos
ânimos, uma âncora emocional acionada por um comportamento racional. Funciona,
mas é superficial, pois ao invés de combater o efeito, contando até dez você
apenas desvia o foco. É o mesmo que mascar chiclete para a ansiedade, sorvete
para a tristeza, álcool para solidão... São paliativos, não soluções.
A disciplina
necessária surgiu pela prática de Ninjutsu!
É comum que na
vida adulta deixemos de lado a importância dos processos de aprendizagem.
Geralmente somos tomados pelo senso de capacidade absoluta que nos ilude a
acreditar que aprendemos as lições importantes como que por efeito de pura
vivência. O Ninjutsu me fez relembrar a importância de se desenvolver por etapas
e principalmente, me fez compreender que não se pode fugir da
"hierarquia" dos processos. Tentar subir uma escada correndo é
assumir os riscos e tropeçar e cair de volta para o primeiro degrau.
Com os treinos,
ou melhor, através dos treinos, eu pude recobrar a importância de ser paciente
diante de uma jornada cujo objetivo é o desenvolvimento. As emoções se tornaram
o meu uke, e como tal, eu não poderia simplesmente realizar movimentos
aleatórios em busca de resultados. Era necessário perceber o ataque, observar a
movimentação, esquivar-me do golpe, me proteger de algum outro movimento,
avaliar as posições, calcular a melhor defesa, me posicionar corretamente e só
então agir em minha defesa. Mas não bastava agir simplesmente, era necessário
inserir na minha conduta algum tipo de influência ou intenção que fosse capaz
não apenas de coibir o ataque, como também contra-atacar com eficiência
subjetiva para que o efeito do ataque não me atingisse por reflexo da ação.
Comportamentos,
quando se tornam hábitos são incrivelmente eficientes, pois não existe a
necessidade de iniciar um processo tantas vezes repetido, tudo acontece de
forma natural e funcional. Hoje eu sou capaz de reconhecer uma melhora
realmente significativa, não como eu gostaria que fosse, mas os efeitos
emocionais são bem menos influentes em minhas condutas, principalmente os de
emoções negativas e destrutivas. Considero essa melhora como uma superação
pessoal, mas confesso que existem efeitos colaterais que eu preferia que não
fizessem parte desse processo.
Nós construímos
um mundo para pessoas extremamente emocionais, nos adaptamos com profunda
conformidade aos efeitos das emoções e somos até dependentes de certa forma
desses efeitos. O mundo adora representações de emoções intensas!
Enfim... A
síntese desse texto é: sinta, mas não seja suas emoções. Não tente controlar o
que você está sentindo, tudo não passa de reflexos sobre como você absorve as
situações. Saiba controlar a si mesmo para não se permitir ser tomado por uma
confusão eufórica de sentimentos efêmeros.
Tá, mas e na
arte?
Bem, não muda
nada. Lembre-se que a arte irá se adaptar em você, ela vai fazer parte do que
você se tornar. Nos treinos, talvez seja interessante tentar manter a
neutralidade emocional (Fudoshin). Isso ajuda a absorver as informações de
forma pura e sem influências subjetivas que talvez sejam dispensáveis no
momento. Calibrar isso por escolha é difícil, eu sei, por isso a sugestão é:
faça um bom shikin, concentre-se e decida estar ali, no treino e não no mundo
inteiro.
Bufu ikkan.
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